Erasmus Mundus, Crossways in Cultural Narratives: o programa e os primeiros passos.
- Paula Rodrigues
- 26 de out. de 2018
- 6 min de leitura
Disse na semana passada que no dia seguinte continuaria a minha história; isso quer dizer que: não confiem em mim se eu disser que serei assídua na minha escrita - sou uma postergadora nata! haha
Continuando a história de onde parei...
No início deste ano (2018), lá estava eu na Irlanda, mais ou menos conformada com a vida que estava tendo. Depois de todas as decepções que havia tido nos anos anteriores nas minhas tentativas de fazer pós-graduação fora, eu estava afinal na Europa e fazendo as viagens que tanto tinha sonhado na adolescência.
Mas sabe quando você sente que não está sendo tudo o que poderia ser, que está vivendo à sombra do seu sonho?
Era isso que a Irlanda era para mim: a sombra do que eu queria. A sombra porque lembrava o que eu queria, só que na verdade não era. Eu queria sim morar no exterior, mas queria estar estudando algo pelo qual era apaixonada, sentir o sangue correndo nas veias, sentir emoção, brilho nos olhos, sentir que estava fazendo algo verdadeiramente para mim.
De início, nem sabia se voltaria a me inscrever em qualquer uma das bolsas que havia tentado no passado; pensava em ficar na Irlanda por um tempo e pesquisar minhas possibilidades. Talvez tenha sido exatamente por isso que resolvi me inscrever no Crossways: estava tão focada na minha vida irlandesa, que se eu passasse ou não na seleção, não ficaria magoada.
Mas daí que a vida é assim: às vezes, quando você menos espera, as coisas que você quer acontecem. E foi então que no final de um longo processo, cheio de reviravoltas (não mentirei, haha), eu passei na seleção do meu curso dos sonhos com a bolsa de estudos que eu precisava . :)
Erasmus Mundus e Crossways:
Das minhas pesquisas sobre pós graduação no exterior (não sou especialista, mas pesquisei bastante), achei algumas opções de bolsas de estudos para nós brasileiros: a primeira, talvez a mais conhecida, são as bolsas financiadas por órgãos do governo, como Capes e Cnpq, seja sanduíche (fazendo parte do curso no Brasil e um ou dois semestres no exterior) ou integral (totalmente fora). Não sei detalhes sobre a aplicação desses programas, pois as bolsas são destinadas a Doutorado e apesar de eu já ter um mestrado no Brasil, não queria enfrentar o doutorado ainda. Além disso, não sei se no momento esses programas ainda tem muitas bolsas disponíveis, pois houve um corte bastante grande de verbas governamentais nos últimos anos)
A segunda opção, e a que mais tentei, foi me inscrevendo nas universidades que eu queria e aplicando para bolsas que a própria universidade ou outros órgãos ligados a elas ofereciam (como o Santander, por exemplo). Essas bolsas são bastante competitivas e muitas vezes não cobrem o custo total para morar fora. Quando tentei do Brasil, passava sempre na seleção das universidades, mas não conseguia bolsas que cobrissem o que eu precisava.
Foi então que achei o Erasmus Mundus.
Basicamente o Erasmus é um programa de mobilidade acadêmica financiado pela União Européia. O programa é amplo e tem várias vertentes, mas o que se encaixava com o que eu queria era o Mundus, já que ele é um programa de Joint Masters, ou seja, um mestrado de mobilidade acadêmica.
Qualquer um dos Joint Masters do Erasmus tem a mesma característica de se passar em pelo menos duas universidades europeias escolhidas no momento de inscrição pelo candidato, que irá se locomover durante o curso entre elas, recebendo assim o diploma de Mestre de cada dessas instituições. Deu para entender?
Isso é que diz no site deles:
"An Erasmus Mundus Joint Master Degree (EMJMD), is a prestigious, integrated, international study programme, jointly delivered by an international consortium of higher education institutions."
No meu mestrado, o Crossways in Cultural Narratives (CWCN), eu precisava escolher três universidades dentre as oferecidas pelo meu curso para passar durante os 2 anos de trajetória. Essa escolha deveria se basear na minha linha de estudos e também nas línguas que eu falava. A minha escolha foi a seguinte:
1º Semestre: Universidade NOVA de Lisboa (Portugal)
2º e 3º Semestre: Universidade de Sheffield (Inglaterra)
4º Semestre: Universidade de Bergamo (Itália)
No caso, a universidade de Sheffield é a minha Home University, já que é lá que passarei a maior parte do meu mestrado, terei meu orientador e desenvolverei a maior parte da minha dissertação.
O Erasmus Mundus é muito legal tanto do ponto de vista acadêmico, quanto do ponto da experiência de vida. Durante o curso, você conhece três universidades diferentes, se integra com o modo de ensino de três países - vivendo a sua cultura - e conhece pessoas de toda parte do mundo.
Há cursos Mundus em diversas áreas, o meu, em específico, é voltado para Narrativas Culturais. Sendo eu formada em literatura, vou levar meus estudos para esse lado, mas tenho colegas do jornalismo, teatro, artes plásticas, fotografia, cinema... enfim, uma amplitude de possibilidades de conversar culturalmente com um monte de gente!
Nem preciso dizer o tanto que eu, que cresci fascinada com os livros e com sede de explorar o mundo, me sinto feliz de fazer parte disso.
O início da jornada:
Então, no dia 5 de setembro, chegava eu em Lisboa para o primeiro semestre do mestrado. Vim nervosa e cheia de medos, afinal, morava já há 1 ano na Irlanda e querendo ou não tinha alguma estabilidade lá, tinha um emprego e amigos de quem gostava muito. Não é tão fácil assim começar do zero, ir para um lugar no qual não se conhece ninguém e nem nada. Mesmo sempre tendo querido isso para minha vida, é impossível não sentir medo, dor de estômago e afins, ainda mais que no ano anterior eu já tinha feito isso, largando a minha vida no Brasil para ir para Irlanda. O momento inicial é sempre de medo, por mais que você queira a mudança. E o meu medo aumentava no fato de que eu sabia que nesses 2 anos teria que me mudar constantemente, sabendo lá eu onde eu ia parar no fim. Minha vida no momento é de andarilha, de cigana (como diz a minha mãe, haha), e isso me causa uma mistura de felicidade com medo que é muito louca.
Voltando ao início... dia 5 de Setembro lá estava eu com a minha vida em 2 malas de 20 kgs, de olhos arregalados tentando pegar um taxi no aeroporto de Lisboa para a residência estudantil que eu tinha reservado. Meu primeiro estranhamento foi ver que tinha sol e estava quente na rua. Setembro já estava frio na Irlanda e todo mundo andando de cachecol, casaco, bota e sobrinhas para enfrentar as intermináveis chuvas. Nessa Lisboa, na qual que eu nunca havia pisado o pé antes e muito menos pensado em morar, fazia sol, as pessoas falavam a minha língua e as ruas me pareciam estranhamente familiares. Devo deixar claro que a familiaridade que Lisboa inicialmente me causou vem do fato que, comparada à cinzenta e fria Dublin, a segunda tinha todos os ares do Brasil que eu andava sentindo falta nos meses passados.
Lisboa me encantou de primeira por ter a cara da minha casa, mas sem deixar de ser um lugar cosmopolita e cheio das diferenças culturais que me encantavam.
A primeira semana em Lisboa foi só descobertas e encantamentos. Todo lugar que eu olhava me causava o furor da alma pela qual eu ansiava há meses. Minha primeira conclusão foi: eu gosto de cidade grande, gosto de sol e gosto de vida. Logo eu, que sempre sonhei com as charnecas frias inglesas, me encantando com algo que sempre tinha estado ali para mim no Brasil - algo tão simples como o sol. Mas viagem é isso, é a gente ir descobrindo coisas novas sobre si mesmo, ir se desconstruindo e reconstruindo constantemente. Desconstruí muito de mim na Irlanda, me desconstruo agora em Portugal e sei que vou continuar mudando enquanto a jornada durar. Essa é a beleza da história. É isso que sempre quis.

A sede do meu curso é em Perpignan, na França, então na semana seguinte à minha mudança para Lisboa, fui para os Induction Days - o encontro inicial de todos os participantes do Crossways. Por ser um curso de mobilidade no qual cada um escolhe o seu caminho, aquela era uma das únicas oportunidades de nos encontrarmos todos juntos, já que cada um escolheu universidades diferentes, em semestres diferentes. Nosso próximo encontro todos juntos assim será na formatura, daqui a 2 anos.
Os dias em Perpignan foram extremamente motivadores: ficamos conhecendo mais sobre o que era esperado de nós, conhecemos alunos dos anos anteriores, ficamos mais cientes da nossas possibilidades para o futuro e pudemos celebrar o fato de que passaríamos por uma jornada tão incrível, nos encontrando e desencontrando, figurada e literalmente.

Na minha ida para Perpignan, aproveitei para conhecer Barcelona, que é ali pertinho, então só posso dizer que de modo geral os meus primeiros momentos como aluna do Erasmus Mundus foram maravilhosos. Agora me encontro em Lisboa, onde ficarei até final de janeiro.
Minhas postagens a partir de agora serão para dividir experiências, seja da universidade, das viagens que farei, para indicar livros, dividir meus estudos, enfim... qualquer coisa! Caso alguém queira saber alguma coisa específica, pode perguntar também!
Abaixo deixarei alguns links para quem tem interesse no Erasmus Mundus ou até no meu curso mesmo!
Sobre o Erasmus:
https://ec.europa.eu/programmes/erasmus-plus/opportunities/individuals/students/erasmus-mundus-joint-master-degrees_en
Catálogo de mestrados Mundus:
https://eacea.ec.europa.eu/erasmus-plus/emjmd-catalogue_en
Site do Crossways in Cultural Narratives:
https://master-crossways.univ-perp.fr/
Então até mais e beijinhos!
Olá, Paula. Li sua primeira postagem e esta. Adorei conhecer um pouquinho da sua história e saiba que ela me inspira. Acompanharei cada nova linha, portanto não deixe de escrever por favor! rs. Beijos e felicidades!
Obrigada pelo comentário, Nane! Te desejo tudo de bom nessa nova fase da sua vida também!❤
Paula, li cada linha, lembro muito de você no início da Irlanda, cheia de incertezas, mas foi fluindo tudo positivamente, fico feliz de ver que você se encontrou. Parabéns, que Deus te abençoe e que você continue brilhando ❤️.